sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Gesteira nas Memórias Paroquiais de 1758

Em 1758 a Gesteira estava integrada na freguesia de Cadima, aliás como ainda estava até à uns anos atrás, nestes documentos a Gesteira é referida como uma das mais populosas aldeias da freguesia, junto com a Fervença e o Zambujal. No entanto eu sei que estas respostas do pároco estavam um pouco imprecisas e que também os Carreiros e a Guimera eram aldeias com uma nível de população das restantes três. Na data do inquérito qualquer destas 5 aldeias já tinha cerca de 50 habitantes. O pároco não indicou o numero de "vizinhos", mas estimo que estas aldeias tivessem entre 10 e 20 fogos cada.

O Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (http://www.iantt.pt/) disponibiliza as imagens digitalizadas das Memórias Paroquiais de 1758, também denominadas de Dicionário Geográfico de 1758, para praticamente todo o país (o país de então era bem diferente do país de hoje).

As Memórias Paroquiais fazem parte dum esforço de realização de inquéritos sobre o território, que se iniciou no começo do século XVIII. A sua execução continua o trabalho do Padre Luís Cardoso que, entre 1747 e 1751, publicou dois volumes do seu Dicionário Geográfico, que ficou então incompleto.
O projecto é retomado em 1758, com apoio do governo, sendo o questionário de base ampliado e dividido em 3 partes, contendo perguntas sobre a paróquia, a serra e o rio. O inquérito era dirigido aos párocos e a qualidade das respostas é muito diferenciada, dependendo do empenho e da capacidade de cada um dos eclesiásticos. A documentação é composta por 44 volumes manuscritos, compreendendo as respostas dos párocos e os resumos relativos a um conjunto de paróquias para as quais não existem "memórias".
Sendo assim, um aviso de 18 de Janeiro de 1758 do Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Marquês de Pombal, fazia remeter, através dos principais prelados, e para todos os párocos do reino, os interrogatórios sobre as paróquias e povoações.
Desse Inquérito fez parte um questionário muito completo, que se dividia em três partes : descrição geral da freguesia, descrição da serra e descrição do rio (estas duas últimas partes só seriam preenchidas no caso de haver serra ou rio), para além da questão dos estragos provocados pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755.

O interrogatório e as respostas do pároco da freguesia de Cadima de então são aqui expostos, sabendo que existirão imprecisões sobretudo na tradução das repostas (pois não sou paleógrafo, apenas interessado por estas questões).

1. Em que província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?

2. Se é d’el-Rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?

3. Quantos vizinhos tem, e o número de pessoas?

4. Se está situada em campina, vale, ou monte e que povoações se descobrem dela, e quanto distam?

5. Se tem termo seu, que lugares, ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos vizinhos tem?

6. Se a Paróquia está fora do lugar, ou entro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia, e todos pelos seus nomes?

7. Qual é o seu orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem Irmandades, quantas e de que santos?

8. Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem?

9. Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?

10.Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros?

11.Se tem hospital, quem o administra e que renda tem?

12. Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver de notável em qualquer destas coisas?

13. Se tem algumas ermidas, e de que santos, e se estão dentro ou fora do lugar, e a quem pertencem?

14. Se acode a elas romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?

15. Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem com maior abundância?

16. Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta?

17. Se é couto, cabeça de concelho, honra ou behetria?

18. Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por virtudes, letras ou armas?

19. Se tem feira, e em que dias, e quanto dura, se é franca ou cativa?

20. Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte; e, se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra aonde ele chega?

21. Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do Reino?

22. Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras coisas dignas de memória?

23. Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial virtude?

24. Se for porto de mar, descreva-se o sitio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?

25. Se a terra for murada, diga-se a qualidade dos seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente?

26. Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em quê, e se está reparada?

27. E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.


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(Tradução: contém erros e imprecisões)

Resposta aos artigos pedidos por sua Magestade

Igreja freguezia de Cadima

1 Pertence a provincia da Beyra, Bispado de Coimbra e Comarca da mesma cidade de Coimbra, termo da villa de Montemor-ovelho

2 Appresenta esta Igreja a Universidade de Coimbra

3 Terá a freguezia o numero de duas mil e quatro centas pessoas

4 Está situada em planicie donde moramente se descobre o lugar de Lemede freguezia de S. Pedro da villa de Cantanhede

5 Consta a freguezia dos lugares de Cadima, de Guimera, do Casal, de Lage, da Povoa, das Pedras asperas, da Palhagueyra, do Lombo folar, da Lagoa alta, do Feytoso, dos Carreyros, da Moutta, do Cazal dos Oliveyros, das Sanguinheiras, do Escoural, Cazal dos Taypinas, Lagoa do Grou, Azenha, Cazal dos Recachos, Coelheyros, Cazal dos Nettos, Taboeyra, Barroinho, Costa do Vizo, Entreagoas, Barganção, Nogueyras, e todos estes lugares quandem terão quinze moradores hum por outro excepto o luguar da Fervença, e Zambujal, e Gesteyra, que podem ter cada hum sincoenta moradores

6 Fica cituada a Igreja, desviada da maior parte dos moradores perto de legoa e meya, entre o lugar de Guimera e de Cadima

7 O Orago da Igreja he a Senhora do Ó com sinco altares e sem ter naves e com quatro Irmandades, hum do Sanctisimo e da Senhora do rozario, e da Senhora do Ó, e das Almas

8 He Vigayro o Pancho apprezentado pella Universidade de Coimbra sem ter mais renda, que quarenta mil reis, tres alqueyres de trigo, e tres almudes de vinho e mais contingente do pe de altar

9 Não he collegiada esta Igreja

10 Não tem a freguezia conventos

11 Nam tem hospital

12 Nam tem caza de Mizericordia

13 Tem a freguezia tres cappellas dispersas pella freguezia. Huma no lugar do Zambujal do titulo de S. Miguel, outra no lugar da Povoa da Senhora das Neves, outra no lugar de Cadima de Santo Antonio e todas tres pertencentes ao povo

14 A estas cappellas nao ha concurso de gente devota das Imagens por modo de Romagem

15 Os frutos desta terra e freguezia conta de milho, e feyjões, e algum vinho, mas tudo lemitado, que destes frutos abundantes só sincoenta de freguezia pouco ver menos destas são de comprar esta qualidade de frutos

17 He couto mas não cabessa de concelho

18 Não ha lembrança, que desta terra já se saem homens notaveis em letras ou virtudes.

19 Neste mesma freguezia ha em todas as segundas segundas feyras de cada mes hua tenuisima feyra de pouco gado de boes sem tributo

20 Não tem correyo, e algumas pessoas, q tem correspondencias se valem do Correyo de Coimbra, que dista mais de quatro legoas.

21 Coimbra he a capital cidade do Bispado distante desta freguezia as ditas quatro legoas, e de Lisboa trinta com pouca differença

22 Não considero haja nest freguezia previlegios dignos de memoria.

23 Nam ha fonte nesta terra de qualidade de agoa especial

24 Fica distante do mar esta freguezia

25 Não he murada

26 A Igreja padeceo algum sentamento nas paredes no terremoto de 1755

Não tem serras, nem Rios de que possa fazer rellação, que lhe respeyte. Cadima em 20 de Abril de 1758


O Vigario Manoel Roiz Trovão

2 comentários:

  1. Já naquele tempo o vigário fugia o mais possível à declaração de rendimentos!

    O questionário do marquês de Pombal trazia água no bico, deve ter pensado o vigário.

    O mesmo se passa na actualidade com a contabilidade da Igreja.
    Temos um exemplo: as obras actuais na igreja da Sanguinheira

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  2. Esse vigário até que nem escreveu quase nada, ou era novo ou não conhecia bem a freguesia, se comparar-mos este inquérito (que foi, diga-se, genial por parte do Marquês de Pombal para a época) com o de Mira que vinha super detalhado, ou então o que ganhava o Vigário de Cadima face ao que ganhava o de Outil (5 vezes mais).

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