segunda-feira, 31 de maio de 2010

Baú da Gesteira: Cantador ao desafio

Em conversa com a minha tia descobri que ela tinha feito um trabalho sobre a Gesteira, e como era a vida na aldeia há muitos anos, bem como o "património cultural" da nossa terra e da nossa gente.
Apresento hoje aqui uma parte desse trabalho, que trata de um "famoso" cantador, natural da Gesteira, e que, pelos vistos, tinha queda para o ofício.
O dito cantador, foi uma vez ao São Tomé de Mira, com o seu "corno" às costas (onde levava a sua pinga), e passando perto de um tocador e de uma cantadeira, foi interpelado pela cantadeira:

"Oh homem do corno, diga-me de onde vem, para onde vai.
Diga-me se os tem de sua lavrança, ou se os herdou de sua mãe ou de seu pai."

Ora, esta senhora estava longe de imaginar que o nosso herói era rápido e implacável na resposta, e respondeu-lhe cantando:

"Não os tenho de minha lavrança, nem os herdei de minha mãe nem de meu pai.
Herdei-os de seu marido, que eles de maduros também caem!"

O nosso cantador, não deixou dúvidas sobre quem tinha mais queda para a desgarrada.

Um grande obrigado à tia Maria por mais esta preciosidade sobre a nossa terra e sobre a nossa gente!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Baú da Gesteira: Quando a Gândara era pequenina

Todos sabemos que a terra sofre mudanças constantemente, que o que conhecemos hoje foi diferente ontem, e será ainda mais diferente amanhã.

Como já aqui apresentei alguns fósseis marinhos encontrados na Gesteira, é natural acreditar que esta região foi outrora coberta por mares, e habitada por seres marinhos.
Estou a ler com muito interesse e curiosidade a obra "A Gândara Antiga" do Dr. João Reigota, e uma das coisas que me cativou logo a atenção foi o facto de ele referir que a costa da Beira-Litoral, tem sofrido grandes mudanças mesmo em "curtos" espaços de tempo.
O que apresento de seguida são alguns mapas que demonstram estas alterações, e bastaria recuar cerca de 800 anos para que a costa fosse quase aqui ao lado, mais ou menos onde se encontram hoje Vagos, Mira e a Tocha, ou seja, entre 7 a 10 Km mais para o interior.
Por essa altura, a Gândara, pequenina, teria quase menos 10 Km de largura, de alto a baixo.

Os 3 primeiros mapas são de 1560, 1700 e 1810 respectivamente.

A Descrição atual e precisa de Portugal, antiga Lusitânia, por Fernando Alvarez Seco (1560)







Novo Mapa Mostrando as Explorações Espanholas e Portuguesas com Observações dos Mais Engenhosos Geógrafos da Espanha e Portugal (1700)







Mapa da Espanha e de Portugal, Corrigido e Ampliado a partir do Mapa Publicado por D. Tomas Lopez (1810)








Ampliando apenas a região das costas Gandaresas, podemos ver mais em detalhe alguma evolução da costa desta região, no mínimo nos últimos 500 anos. Se tivermos em mente onde se encontra hoje a costa, podemos identificar povoações muito mais próximas da costa, mesmo sabendo que estes mapas não tinham a precisão dos mapas dos nossos dias.
Em 1560, podemos ver que a região de Aveiro tinha várias ilhas e que a foz do rio Mondego era muito mais larga, com alguns ilhéus também no seu leito. A costa em si também parece um pouco recuada.









No mapa de 1700, pode-se ver uma ilha grande junto à foz do Mondego, e vários "montes" junto à costa, nomeadamente na zona da Tocha.




Cem anos depois a costa já apresentava os contornos semelhantes aos da costa de hoje e evoluíra a arte de desenhar mapas.





De acordo com mapas e informações apresentados no livro "A Gândara Antiga", de João Reigota, fiz uma dedução do que teria sido a costa Gandaresa por volta de 1200, ou seja há 800 anos atrás. A parte amarelada no mapa estaria ocupada pelo Atlântico, a ria de Aveiro estaria recuada, o Mondego era um rio muito mais largo e de grande caudal, bem como todas as ribeiras da região. Por essa altura, ainda não são conhecidas referências à zona da actual Gesteira, mas já existindo habitação no local de Cadima por exemplo, a Gesteira não distaria muito mais de 5 km do mar. Pode-se ver no mapa a localização da Tocha e da Gesteira. Se cá estivessemos poderíamos ir à praia a pé...

Flora da Gesteira: Estrela-da-Tarde (Oenothera)

Sempre me impressionou esta flor de um amarelo garrido, com pétalas aveludadas, e que abria a partir da tarde, parecendo intimamente ligada à Lua pois à noite mantinha-se aberta e feliz a namorar galhardamente o astro da noite!
Demorei algum tempo a descobrir o nome e origem desta planta que se encontra em muita quantidade na Gesteira e regiões próximas, nos quintais e à beira das estradas.

Nome científico: Oenothera biennis L.

Nomes populares: prímula, onográcea, estrela-da-tarde e erva-dos-burros ou ‘evening primrose’ (nome originado do facto das suas flores se abrirem ao entardecer). Também conhecida por onagra, zécora, canárias; evening primrose (inglês), onagra (espanhol), onagre (francês), onagracee (italiano) e nachtkerze (alemão). Em inglês também é conhecida por Fever plant, Field primrose, King's cure-all, Night willow-herb, Scabish, Scurvish.

Origem: América do Norte.

Detalhes
: Da América do Norte a planta foi trazida para Inglaterra em 1619, onde ficou conhecida como "King’s Cure-all". O seu cultivo expandiu-se pela Europa e Ásia. É uma planta herbácea anual ou bianual, de caule robusto, folhas largas e longas, flores grandes e amarelas. O fruto é uma cápsula que contém numerosas sementes.

Composição química
: Ácido gamalinolénico (GLA), fitosterol, onoterina, taninos, compostos flavónicos, mucilagens, ácido palmítico, ácido esteárico, ácido oléico, beta-sistosterol e citrstadieno.

Propriedades medicinais
: adstringente, antialérgica, antiinflamatória, activadora dos linfócitos T, demulcente, emoliente, inibidora da síntese de prolactina, reguladora da circulação sanguínea e reguladora do tônus muscular.

Indicações
: cólica, diarréia, reações alérgicas de pele, asma, dor, dor peitoral, eczema,
colesterol, esclerose múltipla, dor de nervo causada por diabete, feridas, nervosismo, psoríase, síndrome pré-menstrual, tosse, tosse asmática. O óleo da planta serve também para combater os sintomas de tensão pré-menstrual (TPM), redução das dores de artrite reumatóide, tratamento de disfunções na pele, tratamento e prevenção de doenças cardíacas, alergias, esclerose múltipla, depressão e hiperatividade.

Nota: Não se aconselha a sua utilização de forma alguma sem consulta médica prévia.
O ácido gamalinolénico (GLA) extraído do óleo da planta é normalmente produzido pelo organismo humano pela conversão do ácido linoléico ingerido pela alimentação. No entanto, alguns factores como o stress, colesterol elevado, diabetes, insuficiência hepática e alguns medicamentos, entre outros, inibem essa formação, o que pode acarretar distúrbios no organismo, como aumentar a agregação plaquetária e levar a inflamações, má produção de prolactina, má regulação do tônus muscular e aumentar a susceptibilidade a doenças cardíacas.

Esta curiosa planta parece portanto uma planta quase milagrosa, não admira o nome que os Ingleses lhe deram ("cura tudo"). Devendo ter sido difundida a partir de Inglaterra depois de 1619 para o resto da Europa.

A planta em si apresenta vários botões, sendo que todos os dias um desses botões abre com uma espantosa e quase florescente cor amarela, e com um cheiro frutado muito forte e agradável. Como já foi referido a estrela-da-tarde floresce mais à tarde e mantém-se aberta durante a noite, dando um colorido especial à noite. No dia seguinte, o botão seguinte abrirá, e a flor da tarde/noite anterior murcha e fica com uma cor alanranjada.

Curioso, não?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Baú da Gesteira: Fósseis da nossa terra

Este tópico é um pouco diferente, e com a preciosa ajuda dos professores Pedro Callapez e João Oliveira da Universidade de Coimbra e do site fossil.uc.pt, consigo aqui relatar informações mais precisas sobre alguns fósseis encontrados em terras da Gesteira.

Os fósseis em questão são marinhos e remontam à Era Mesozóica, Período Cretácico, mais concretamente ao início do Cretácico superior. Neste intervalo da história da Terra, há cerca de 98 milhões de anos, o nível da superfície dos oceanos atingiu cerca de 200 a 250 m acima da sua cota actual, submergindo vastas áreas marginais e do interior dos continentes. A actual Europa estava reduzida a um conjunto de ilhas, entre as quais a Ibéria. Onde estão hoje a Estremadura e a Beira Litoral existia uma vasta plataforma marinha com condições tropicais e inúmeros recifes. Os seus vestígios encontram-se entre os paralelos de Aveiro e de Lisboa, incluindo a Gândara e a Bairrada. Nestas regiões observam-se pequenos afloramentos, como os da Tocha, Mamarrosa, Enxofães, Lapa e Barcouço-Pisão. Consistem em calcários e margas fossilíferos.

As primeiras fotos mostram um molde interno de Tylostoma ovatum, um gastrópode ou búzio marinho.

Este fóssil, foi encontrado nos anos 80 do século passado, numa área de pinhal a norte da Gesteira, estando na altura incluído numa rocha maior, da qual eu o retirei danificando um pouco o fóssil como se pode verificar pelas fotos.


Os outros fósseis representam duas valvas de moluscos bivalves, parentes dos mexilhões actuais. A grande é um excelente exemplar de Pseudoptera anómala e a pequena um Septifer lineatus.

Estes foram fotografados recentemente numa "pedra" de cerca de 1m de comprimento por 20cm de largura, retiradas da terra há menos tempo aquando da abertura de um poço, também na parte norte da Gesteira. Esta "pedra" foi retirada de uma profundidade que não chegava aos 10 m.

Estas "descobertas" demonstram que esta região foi outrora coberta por um Oceano, e com imensas criaturas marinhas, a foto anterior mostra uma enorme quantidade de bivalves, e estado esta enterrada a menos de 10 metros de profundidade, poderá imaginar-se que estes últimos 95 milhões de anos trouxeram não só o recuo do Oceano, mas também uma acumulação de cerca de 10 metros de sedimentos, areias, argilas, e o óbvio aparecimento de rochas e fósseis que foram "conservados" desde então. Esta é a minha pequena conclusão de leigo, fica aqui lançado o desafio para a discussão e apresentação de mais fósseis da Gesteira e região.

Hoje e amanhã: Gesteira vence 9º campeonato de Futsal da freguesia da Sanguinheira

(in Jornal Independente de Cantanhede)

Gesteira venceu campeonato de Futsal da Freguesia

A Gesteira, terminando o campeonato com 17 pontos, 2 pontos a mais que a Palhagueira, foi a justa vencedora deste que acabou por ser o tricampeonato para a nossa terra. Ao fim de 9 edições, é a primeira vez que há "tri" no campeonato de Futsal organizado pela Freguesia da Sanguinheira.

Os resultados da última jornada foram:
Sanguinheira 1 - Palhagueira 0
Pedras Ásperas 2 - Casal dos Netos 1
Gesteira 8 - Grou 0

Com estes resultados, sobretudo a vitória da Sanguinheira sobre a Palhagueira que até então ocupava o primeiro lugar, e com a goleada da Gesteira sobre o Grou, a classificação geral e final passou a ser:

1º Gesteira 17 pontos
2º Palhagueira 15 pontos
3º Sanguinheira 13 pontos
4º Pedras Ásperas 13 pontos
5º Moita 10 pontos
6º Casal dos Netos 8 pontos
7º Grou 8 pontos

Em 2011 haverá mais um campeonato e a Gesteira será então, de novo, o alvo a abater.

Parabéns a todas as aldeias participantes pelo equilibrado campeonato, e parabéns especiais à Gesteira por mais uma conquista.