segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Baú da Gesteira: O primeiro enterro no Cemitério Público de Cadima

Há vários séculos que a igreja era o local oficial tradicional das inumações, seja no seu interior seja nos átrios à sua volta (adro). Destinavam-se estas sepulturas aos cristãos, de preferência os que pudessem pagar e não fossem mal vistos pela hierarquia eclesiástica, e esses eram sepultados dentro da igreja, os pobres e restantes eram sepultados no adro.

Mas o espaço das igrejas era também o prinicpal ponto de encontro da comunidade, um local de circulação, até haveria feiras de gado perto, batizados, casamentos, procissões e festas que se desenrolavam por cima dos cadáveres...

A instauração de cemitérios civis como um serviço público - foi decretada em Lisboa em 1835 - não seguiu em Portugal grandes debates ou planificações, como noutros países da Europa, o objectivo era responder a emergências, nomeadamente como uma resposta a uma epidemia de cólera morbus que assolou Portugal por volta de 1833. Aproveitou-se então para retirar o local de sepultamento do local de culto e onde o povo passava algum tempo, estando portanto exposto a maus cheios e condições de insalubridade extrêmas.

Mas em Cadima, o cemitério público não começou a ser usado efectivamente que a partir de 18 de janeiro de 1893! No entanto, uma notícia do Campeão das Províncias de 22 de novembro de 1893 salienta a importância de vedar o adro da igreja por causa dos animais que lá vão pastar e indica que só desde há 8 meses se deixaram de sepultar os mortos lá, afinal já há 10 meses que isso não se fazia.

Isabel Dourada, do Olho, faleceu ali a 6 de janeiro de 1893 e terá sido sepultada, como era hábito, no dia seguinte, no adro da Igreja de Cadima. Foi o último corpo a ser sepultado no adro da igreja de Cadima, a partir dessa data todos os defuntos iriam para o cemitério de Cadima, no locla que hoje conhecemos.

Quando a 18 de janeiro de 1893, Ana de Jesus, da Taboeira, foi sepultada, esta já o foi no Cemitério Público de Cadima. Ana de Jesus tinha 30 anos, era solteira e filha de Francisco António e de Júlia de Jesus, das Nogueiras, faleceu na Taboeira a 17 de janeiro de 1893, deixou duas filhas e não fez testamento.

No entanto, sabe-se que o Cemitério Público de Cadima já existia, e talvez pelo medo da mudança e a força da cultura e da crença de que os mortos sempre se enterrariam na igreja ou junto a esta, poucos foram os cadáveres que aí se sepultaram, continuando a usar-se a igreja. O primeiro sepultamento conhecido no Cemitério de Cadima terá sido a 8 de abril de 1887 (quase 6 anos antes de se tornar comum). Nesse dia ter´sido sepultado Joaquim, criança de 3 meses, filho de Joaquima Gomes dos Santos e de Maria Luísa, da Gesteira. Este meu tio-bisavô foi o primeiro a ser sepultado no Cemitério Público de Cadima!

Assento de Óbito de Joaquim em 1887.


Fontes:
Registos Paroquiais de Cadima - Arquivo da Universidade de Coimbra, Óbitos de 1893 e 1887.
Campeão das Províncias de 22 de novembro de 1893 - Arquivo da Universidade de Coimbra.

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