quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Ontem e Hoje: Reencontro de Famílias Após 112 Anos: Uma História de Emoção e Memória

 No sábado, dia 1 de novembro de 2025, Dia de Todos os Santos, a Gesteira viveu um momento único: o reencontro de duas famílias separadas há mais de um século. Curiosamente, até a chuva deu tréguas para permitir esta visita tão especial.

Fig. 1: A porta de entrada da casa de António Gomes Neto, construída em 1887
 

Em 1913, António Gomes Neto partiu para o Brasil, fixando-se em Limeira, São Paulo, onde constituiu família. Nunca regressou a Portugal, e a sua memória foi-se apagando entre os parentes da terra. Mais de cem anos depois, Juarez Nunes, neto de António, iniciou uma busca para descobrir as suas raízes. Durante anos, foi feita uma investigação genealógica para seguir os passos dos irmãos de António: Carolina Mendes, João Gomes Neto e Maria Mendes. A pesquisa revelou uma ligação surpreendente: Carolina Mendes era sogra de Manuel Francisco Rolo, figura conhecida na Gesteira, e mãe de Maria Mendes.

No encontro, Juarez foi calorosamente recebido pelos seus parentes portugueses, que partilharam histórias de família, incluindo outras partidas para o Brasil que ficaram no esquecimento. Curiosamente, o avô de Juarez não era lembrado, mas descobriu-se que outro irmão mais velho também emigrara para o Brasil, sem deixar rasto, tal como um cunhado (avô da anfitriã), desaparecido há quase 100 anos.

Entre conversas e emoção, foram trocadas fotografias: do avô de Juarez, que partiu em 1913, e da sobrinha que ficou em Portugal, mãe da parente agora visitada. Depois, Juarez foi convidado a visitar as ruínas da casa dos seus bisavós, onde o avô nascera no século XIX. Por um caminho entre oliveiras e loureiros, chegou à casa com parte do telhado caído, mas ainda de pé. Na porta, gravadas na pedra, as iniciais “AN” e o ano “1887”, testemunho do bisavô António Gomes Novo. Este momento foi arrebatador: Juarez encontrou o “seu chão”, imaginando reconstruir a casa e viver onde o avô nasceu, cresceu e
dormiu até partir para o Brasil. 

Fig. 2: O quintal da casa de António Gomes Neto

A visita terminou com vinho do Porto, produzido em terras outrora dos Gomes Novo e Manuel Francisco Rolo, e com planos para manter os laços e futuras visitas. Hoje, os descendentes de António Gomes Novo no Brasil ultrapassam os 300, mas a história provou que as raízes nunca se perdem.

sábado, 6 de março de 2021

Baú da Gesteira: Da Palheira à Sanguinheira (por volta de 1650)

O antigo couto de Cadima era composto por vários lugares e quintas que entretanto despareceram, mudaram de nome ou simplesmente deixaram de ser habitados.

Um desses lugares foi a Palheira (também denominada por vezes de Palheiras). Através de uma análise cronológica e de migrações vamos apontar onde seria hoje a Palheira.

A primeira referência conhecida à Palheira (na realidade, Palheiras) aparece num batismo a 26 de Agosto de 1620: em Cadima era batizada Ana, filha de António Gonçalves e de Margarida Gomes, do Escoural, tendo sido seus padrinhos Francisco Anes o Ferreiro, de Lemede e Maria Gomes, mulher de Pedro Domingues, morador nas Palheiras.

Ainda nessa década há mais 7 referências à Palheira nos registos paroquiais de Cadima, a saber:

  • 1.       16-jun-1622: o batismo de Ângela, nascida nas Palheiras, filha de Pedro Domingues e de Maria Gomes.
  • 2.       8-jun-1624: o batismo de Catarina, nascida na Ribeira da Fervença, filha de Manuel Gomes o Novo e de Isabel Francisca. Foram padrinhos Pedro Domingues, morador na Palheira e Ana Jorge, mulher de António Simões, todos da Ribeira.
  • 3.       5-mar-1625: o batismo de Isabel, nascida nas Palheiras, filha de Pedro Domingues e de Maria Gomes.
  • 4.       19-nov-1625: o batismo de António, nascido no Barganção, filho de Manuel Domingues e de Isabel Antónia. Foram padrinhos João Simões, morador Entre As Agoas, moleiro, e Maria Gomes, mulher de Pedro Domingues, das Palheiras.
  • 5.       29-jun-1627: o batismo de Pedro, nascido nas Alagoas Negras, filho de Francisco Gomes e de Catarina Antónia. Foram padrinhos Pedro Domingues, da Palheira e Luzia, solteira, filha de Manuel Gomes o Velho, morador na Fervença.
  • 6.       12-set-1627: o batismo de Ana, nascida nas Palheiras, filha de Simão Jorge e de Maria Rodrigues.
  • 7.       13-jan-1628: o batismo de Margarida, nascida na Palheira, filha de Pedro Domingues e de Maria Gomes.

Daqui se deduz que a Palheira já seria habitada em 1620 pela família de Pedro Domingues e sua mulher Maria Gomes. Em 1627, também Simão Jorge e Maria Rodrigues aí vivem. As famílias que habitaram a Palheira nessa primeira metade do século XVII são as seguintes:

1. Pedro Domingues e sua esposa Maria Gomes (terão casado antes de 1620). Pedro Domingues faleceu na Palheira a 5-jan-1633.

a.     Angela Domingues, nascida na Palheira e batizada a 16-jun-1622 em Cadima (padrinho da Fervença, madrinha do Escoural), faleceu no mesmo lugar a 6-dez-1645.

b.     Isabel, nascida na Palheira e batizada a 5-mar-1625 em Cadima (padrinho do Escoural, madrinha do Escoural).

c.     Margarida, nascida na Palheira e batizada a 13-jan-1628 em Cadima (padrinho do Escoural, madrinha de Cadima).

d.     Manuel, nascido na Palheira e batizado a 3-abr-1630 em Cadima (padrinho dos Barrins, madrinha da Fervença).

2.     Manuel Jorge Rodrigo e sua esposa Maria Francisca Gomes

a.     António, nascido na Palheira por volta de 1633, faleceu na Palheira a 22-mar-1645.

b.     Catarina, nascida na Palheira e batizada a 19-jan-1635 em Cadima (padrinho da Taboeira, madrinha da Fervença)

c.     Domingos, batizado a 5-abr-1638 em Cadima, não indica local de nascimento (padrinho da Palheira, madrinha da Palheira).

d.     Pedro, nascido na Sanguinheira e batizado a 30-jan-1641 em Cadima (padrinho da Guimara, madrinha de ?).

e.     Francisco, nascido na Palheira e batizado a 21-out-1643 em Cadima (padrinho da Póvoa, madrinha da Póvoa).

f.      Maria

3.     Simão Jorge Rapaduro e sua esposa Maria Rodrigues. Maria Rodrigues faleceu na Palheira a 27-fev-1657.

a.     Maria, nascida no Olho e batizada a 16-mar-1626 em Cadima (padrinhos do Escoural).

b.     Ana, nascida na Palheira e batizada 12-set-1627 em Cadima (padrinho da Ribeira, madrinha da Guimara).

c.     Manuel, nascido na Sanguinheira e batizado a 4-jun-1630 em Cadima (padrinho de ?, madrinha do Corgo do Encheiro).

d.     Isabel, nascida na Sanguinheira e batizada a 17-jun-1632 em Cadima (padrinho da Lagoa do Grou, madrinha da Póvoa).

e.     António, nascido na Sanguinheira e batizado a 28-mai-1634 em Cadima (padrinho de ?, madrinha do Escoural).

f.      Angela, nascida na Sanguinheira e batizada a 6-jul-1636 em Cadima (padrinho da Póvoa, madrinha do Corgo [do Encheiro]).

g.     Domingos, nascido na Sanguinheira e batizado a 4-jul-1638 em Cadima (padrinho do Corgo [do Encheiro], madrinha de Vila Franca).

4.     Pedro Simões e Maria Domingues (casados antes de 1635). Maria Domingues faleceu na Palheira a 21-jan-1660. Pedro Simões faleceu na Moita a 31-dez-1679. [devem ter mudado para a Moita antes de 1674]

a.     Maria, nascida na Palheira e batizada a 18-jan-1635 em Cadima (padrinhos do Escoural).

b.     Angela, nascida na Palheira e batizada a 21-dez-1636 em Cadima (padrinho do Braganção, madrinha do Escoural).

c.     Ana, nascida na Palheira e batizada a 27-jan-1639 em Cadima (padrinho da Taboeira, madrinha dos Barrins). Faleceu a 25-dez-1679 na Moita.

d.     Manuel, nascido na Palheira e batizada a 9-jan-1641 em Cadima (padrinho do Escoural, madrinha da Taboeira).

e.     Pedro, nascido na Palheira e batizada a 17-fev-1643 em Cadima (madrinha da Gesteira).

f.      Margarida [João], nascida na Palheira e batizada a 6-abr-1645 em Cadima (padrinho da Corujeira, madrinha da Guímara), casou com Geraldo Francisco. Feleceu a 15-out-1705 na Moita.

g.     Francisco, nascido na Palheira e batizado a 12-jan-1648 em Cadima (padrinhos da Guímara).

h.     Francisca [João], nascida na Palheira e foi batizada a 6-mar-1650 em Cadima (padrinho da Guímara, madrinha do Escoural), casou em 7-jul-1675 com Manuel de Oliveira, era dita da Moita. Faleceu, viúva, a 1-nov-1719, nos Carreiros.

i.      João, nascido na Palheira e foi batizado a 30-jun-1652 em Cadima (padrinho de Lemede). Faleceu a 11-dez-1674 na Moita.

j.      Isabel. Faleceu a 28-dez-1679 na Moita.

5.     Manuel Jorge Lourenço e Maria Gomes. Maria Gomes faleceu na Palheira a 28-jan-1660.

a.     Catarina, solteira quando foi madrinha em 11-fev-1657.

6.     6.     António Simões Pontadas e Maria Antónia.

a.     Ascenso, nascido na Palheira e batizado a 28-mai-1637 em Cadima (padrinho das Quintas, madrinha das Ribeiras).

b.     Maria, nascida na Palheira e batizada a 4-jul-1643 em Cadima (padrinhos da Palheira).

7.     Manuel Simões e Maria Jorge.

a.     Isabel, nascida na Palheira e batizada a 1-set-1643 em Cadima (padrinho da Água Doce).

8.     Manuel António e Maria Domingues.

a.     António, nascido na Palheira e batizado a 3-out-1646 em Cadima (padrinho do Escoural, madrinha da Guímara).

9.  Manuel Francisco [Rodrigo] e Ana Francisca.

a.     Maria, nascida na Palheira e batizada a 20-mai-1656 em Cadima (padrinho da Palheira, madrinha do Escoural). Casou com Simão Fernandes, da Gesteira, em em Cadima a 24-ago-1676).

Depois de 1660 há muito poucas referências à Palheira, seria estranho todas estas famílias terem desaparecido. No entanto, do registo das famílias acima podem-se ver referências essencialmente à Sanguinheira e à Moita (para a família de Pedro Simões).

Ora, a primeira referência concreta à Sanguinheira aparece a 27-jul-1630, quando Manuel, filho de Simão Jorge e de Maria Rodrigues é batizado em Cadima. Sendo que a partir dessa data a Sanguinheira começar a ter mais referências, essencialmente associadas às famílias apresentadas acima, o que nos pode levar a deduzir que a Sanguinheira e a Palheira (ou Palheiras) eram um só lugar, e que durante 30 anos os padres acabaram por usar os dois nomes de forma aleatória.

Outra prova, mais directa e concreta ainda, aparece no ano de 1657.

A 4 de Fevereiro de 1657, na igreja de Cadima, era batizada Maria, nascida no Escoural, filha de João Domingues e de Maria Tomé. O vigário foi o seu padrinho, a madrinha foi Catarina, provavelmente solteira, filha de Manuel Jorge Lourenço, das Palheiras (ver família deste Lourenço acima). Exactamente uma semana depois (11 de Fevereiro de 1657) era a vez de Domingos ser batizado na mesma igreja. Domingos nascera na Sanguinheira, e era filho de Domingos Jorge e de sua mulher (não especificada no registo). O padrinho foi Manuel Francisco e a madrinha, mais uma vez, Catarina, filha de Manuel Jorge Lourenço, dali. Ora, quando se especifica dali, o padre refere-se à Sanguinheira, enquanto que no registo da semana anterior, especificou a Palheira, portanto, o mesmo lugar.

Este último batizado, era filho de Domingos Jorge e de Brites Francisca, e este Domingos Jorge (o pai) era por sua vez, filho de Manuel Jorge Rodrigo e de sua mulher Maria Francisca que também viveram na Palheira/Sanguinheira (o terceiro filho deles conforme a lista de famílias da Palheira detalhada acima).

Sendo assim, podem-se deduzir os seguintes factos:

  1. Pedro Domingues e Maria Gomes foram os primeiros habitantes da Palheira (conhecidos), tendo-se instalado aí antes de 1620.
  2. Simão Jorge [Rapaduro] e Maria Rodrigues, que vieram do Olho e se instalaram na Palheira, foram os primeiros a registar uma criança nascida na Sanguinheira já com este nome.
  3. A família de Pedro Simões e Maria Domingues que viveu na Palheira pelo menos durante 25 anos (de 1635 a 1660) mudou-se para a Moita (meso ali ao lado) após a morte de Maria Domingues e antes de 1674.
  4. A Palheira (ou Palheiras) foi, sem grandes dúvidas, o nome do lugar que depois se passou a designar de Sanguinheira (até hoje), tendo “coabitado” as duas designações durante alguns anos até cerca de 1660.

 

Referências:

[1] Registos Paroquiais de Cadima (https://pesquisa.auc.uc.pt/details?id=36141).

[2] Base de Dados de Nuno Silva.

terça-feira, 2 de março de 2021

Baú da Gesteira: A flora da Lagoa Negra há mais de 1 Milhão de anos

 

Em 1989 dois investigadores dos Serviços Geológicos de Portugal e da Universidade Nova de Lisboa publicaram um artigo sobre uma análise de uma camada de argilas recolhidas na Lagoa Negra.

Estas argilas foram colocadas a descoberto por causa da erosão causada pelo curso de água e haviam sido mantidas intactas durante imensos anos com uma camada acumulada (principalmente de areias) de quase 5 metros.

O estudo é muito específico relativamente a pólenes e esporos encontrados na argila, e visa igualmente a datar a época de quando esses sedimentos aí foram depositados.

De acordo com os investigadores, os sedimentos estudados seriam do período Plistocénico médio, o que, simplificando, nos faz recuar cerca de 1 a 2 Milhões de anos. O Plistocénico foi um período (de há 11.700 anos até 2,5 Milhões de anos) onde ocorreram várias glaciações, ora o gelo cobria a Europa ora recuava... Esta dedução é feita pela ausência de taxodiáceas (antiga família de Coníferas) e a fraca representação de Myrica (Faia, Samouco) e de Engelhardtia (da espécia da Nogueira).

Deste estudo pode-se deduzir como seria a flora da região da Lagoa Negra há mais de 1 Milhão de anos. O que nos dá a indicação do que seria a floresta autóctone da altura, ainda sem qualquer influência do ser humano.

Temos assim, da análise da amostra, a seguinte composição para os principais pólenes:

  1. Botryococcus sp. (algas verdes) - abundante
  2. Pinus tipo diploxylon + Keteleeria (pinheiros) – 64,7%
  3. Ericaceae ind. (rododendros, azáleas, mirtilo, medronho) – 15,7%
  4. Pinus tipo haploxylon (outros tipos de pinheiros) – 6,7%
  5. Cf. Picea (píceas, abetos, espruces) – 2,3%
  6. Cathaya (género de coníferas pertencentes à família dos pinheiros e cedros) – 1,7%
  7. Alnus (amieiro) – 1,7%
  8. Quercus (carvalho) – 1,7%

A existência de Keteleeria, Cathaya, Myrica e Engelhardtia sugerem que o clima era relativamente quente e muito húmido. A Keteleeria (um tipo de pinheiro bravo) e a Cathaya são géneros asiáticos que vivem na floresta de tipo laurisilva com precipitações anuais que podem atingir 2000 mm e temperatura média anual entre 15 a 20°C.

Para além das principais espécies acima identificadas, a presença, mesmo que em menor quantidade, de outras espécies, também foi identificada, nomeadamente azevinho, nogueiras, cedros, estevas, sargaços, sanganhos, ervas e gramíneas.

 

Referências:

PAIS, João; BARBOSA, Bernardo. Análise polínica de argilas de Lagoa Negra. Ciências da Terra / Earth Sciences Journal, [S.l.], v. 10, apr. 2009. ISSN 2183-4431. Disponível em: <http://cienciasdaterra.novaidfct.pt/index.php/ct-esj/article/view/117>. Data de acesso: 01 mar. 2021.

Escala e Tempo Geológico – Plistocénico, Escola Secundária José Gomes Ferreira, <https://sites.google.com/a/esjgf.info/geotempo/plistocenico>. Data de acesso: 01 mar. 2021.

sábado, 6 de junho de 2020

Baú da Gesteira: A gripe espanhola (pneumónica) que atacou Portugal em 1918 - Os casos de Cadima e Outil

A denominada gripe espanhola (que de espanhola nada teria) também conhecida como pneumónica que atacou o mundo em finais da I Guerra Mundial, foi a grande pandemia do século XX.

Entre 1918 e 1920 terão morrido entre 50 e 100 milhões de pessoas no mundo inteiro. Em Portugal, o número de mortes situaria-se entre as 50 e as 70 mil pessoas (numa população de aproximadamente 6 milhões para a altura).

Ora, nos Estados Unidos, onde se suspeita que a gripe pneumónica tenha "nascido" por volta de março de 1918, existiram 3 ondas da mesma, a inícial, que viria com os soldados americanos para a Europa, uma segunda a partir do Outono de 1918, e uma terceira em 1919. Morreriam mais de meio milhão de americanos durante a pandemia.
Imagem 1: As 3 ondas da pneumónica nos Estados Unidos
Por cá, em Cadima, a pneumónica (chamada de "numónica" em bom Gandarês), viria a registar-se sobretudo em 1918, e levando a um triplicar das mortes da freguesia só nesse ano.

Como se pode observar na figura seguinte, a média de óbitos em Cadima andava pelos 80 a 90 ao ano, em 1918 foram 235! Este número de óbitos representava cerca de 5,1% da população total (usando o valor de 1911 que era de 4601 habitantes).

Imagem 2: Número de óbitos na freguesia de Cadima de 1912 a 1922



Mesmo durante 1918, a gripe pneumónica terá chegado à freguesia de Cadima em Julho, tendo atingido o pico em Outubro, nesse mês faleceram 95 pessoas, tendo os dois meses seguintes registado também um aumento relativamente à média, mas depois, em Janeiro de 1919, os números regressam ao normal. Não se observou mais nenhuma onda do surto.
Imagem 3: Óbitos por mês em Cadima, 1918-1919
 As localidades mais afectadas pela pandemia foram o Zambujal, com 26 mortes, o Casal, com 19, os Fornos e a Taboeira, com 16, Cadima e a Guimara, com 13, São Silvestre, com 12, os Coelheiros e a Quintã, com 11. Curiosamente, a Gesteira, que era com o Zambujal uma das aldeias mais populosas da freguesia de Cadima, registou apenas 4 mortes em 1918, apenas 3 durante o período do surto (Julho a Dezembro). Porque teria o Zambujal sido afectado seis vezes mais do que a Gesteira?
 
Zambujal 26
Casal 19
Fornos 16
Taboeira 16
Cadima 13
Guimara 13
São Silvestre 12
Coelheiros 11
Quintã 11
Fervença 9
Aljuriça 8
Carreiros 7
Nogueiras 7
Olho 7
Azenha 6
Póvoa 6
Carvalheira 5
Escoural 5
Sanguinheira de Cima 5
Braganção 4
Feitoso 4
Gesteira 4
Lagoa Alta 4
Rodelo 4
Sanguinheira de Baixo 4
Casal dos Netos 3
Corgo do Encheiro 2
Coutada 2
Lage 2
Lombo Folar 2
Palhagueira 2
Pedras Ásperas 2
Pontes 2
Seixo 2
Taipinas 2
Corga 1
Freches 1
Grou 1
Moreiras 1
Recachos 1
Silval 1
Tavaredes 1
 Quadro 1: Número de óbitos por localidade (1918)


Em comparação, a freguesia de Outil, que registava 907 habitantes em 1911, teve uma evolução pandémica muito semelhante.
Imagem 4: Número de óbitos na freguesia de Cadima de 1912 a 1922
 O surto ceifou a primeira vítima a 2 de Agosto de 1918, mas teve o seu auge também em Outubro, tendo ceifado 52 mortes em 1918, 29 dessas mortes durante o mês de Outubro. No total, faleceram 5,8% da população (considerando os 907 habitantes de 1911).

Imagem 5: Óbitos por mês em Outil, 1918-1919

A grande curiosidade de Outil prende-se com o facto da pandemia ter afectado sobretudo a povoação de Outil, e tendo quase passado ao lado de Vila Nova. Na realidade, das 52 mortes de 1918, 38 aconteceram em Outil e apenas 14 em Vila Nova. Mais espcificamente, dos 29 falecimentos de Outubro, ocorreram 24 em Outil e apenas 5 em Vila Nova. As pessoas que faleceram em Outil eram de todas as idades, sendo que me Vila Nova faleceram sobretudo idosos, tirando 3 menores e duas mulheres trintonas, todos os restantes eram já bastante idosos. Fica a dúvida, terá Vila Nova feito um cerco sanitário em 1918? O que justifica uma letalidade tão baixa?
 
 
Fontes:
Registos Paroquiais de Cadima - Arquivo da Universidade de Coimbra.
Registos Civis de Cantanhede - Familysearch
https://www.cdc.gov/flu/pandemic-resources/1918-commemoration/three-waves.htm
https://observador.pt/2020/04/24/gripe-espanhola-foi-mais-letal-na-segunda-vaga-102-anos-depois-pode-repetir-se/
Instituto Nacional de Estatística - Recenseamentos Gerais da População